Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional

20 de Novembro – Dia da Consciência Negra

Consciência Negra: “Todas e todos contra o racismo”

A participação no cotidiano da cidadania brasileira, devido aos contatos diários para diagnósticos e terapêuticas, faz dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais possíveis agentes de combate ao racismo no Brasil. A presença dos profissionais não se limita à campanha Novembro Negro, mas alcança todos os meses, como se vê em exemplos de filiados ao Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 7ª. Região – Bahia (CREFITO-7).

Hoje, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, em data escolhida para homenagear Zumbi dos Palmares, é o momento apropriado para verificar como anda a luta do terapeuta ocupacional antirracista, como Fabrício Ribeiro.
Formado pela Universidade de Brasília, educador social e artista transpoético, como se autodefine, Fabrício Ribeiro dedica-se profissionalmente ao aprimoramento técnico e político no campo da saúde da família e saúde mental.

“Como atividade capaz de influenciar no bem estar das pessoas, a terapia ocupacional tem seu papel para sensibilizar outras potências sociais, sem pautar-se apenas na memória da escravização, mas unindo todas e todos contra o racismo”, afirmou Fabrício Ribeiro, ao final de um seus plantões.

A ênfase do trabalho diário de Fabrício Ribeiro está na abordagem da redução de danos para usuários de álcool e outras substâncias psicoativas, bem como populações vulneráveis, alcançando um número significativo da cidadania.

Segundo Fabrício Ribeiro, a terapia ocupacional vem se esforçando a propor críticas às bases epistêmicas, relacionadas à produção de conhecimento, e, sobretudo, a prática clínica referente ao tema “Raça e Racismo”.

“Raça é um determinante social que influencia potencialmente na saúde ocupacional das pessoas”, acrescenta o terapeuta, ao citar Sulamita Amorim e Magno Farias, como autoras dedicadas a discutir temas do cotidiano atravessados pelo racismo.

Para Fabrício Ribeiro, é importante a aproximação de profissionais capacitados em abordagens antirracistas a fim de desafiar, confrontar e, meta final e mais desejada, extinguir sistemas de opressão.

Além do mais, amplia o profissional, é estratégico aos terapeutas ocupacionais buscar intervenções culturais com o objetivo de reforçar o letramento e empoderamento raciais, favorecendo populações afetadas pela segregação.

“É fundamental que a clínica racializada e antirracista não seja exclusiva apenas de terapeutas ocupacionais declarados negros. É um compromisso social de todos os profissionais”, defende o dedicado profissional, ecoando a oportunidade da luta por um convívio melhor.

Fabrício Ribeiro destaca a necessidade de os profissionais refletirem de forma crítica quais grupos raciais vêm tendo oportunidade de acessar os serviços de Terapia Ocupacional e pensar métodos de justiça social aliada à justiça racial.

Entre os coletivos indicados pelo terapeuta ocupacional entre os mais participativos, está o Grupo de Estudos AFETO (Grupo de Estudos sobre Africanidades e Feminismos), acessado pelo @grupodeestudosafeto.
Também desenvolvem trabalhos neste viés o Laboratório de Estudos Africanos Integrados às Atividades e Terapia Ocupacional da UFRJ e o Coletivo Jaqueline Goes da UFMG.

AVANÇOS NA FISIOTERAPIA

Pela fisioterapia, a conselheira e diretora-secretária do CREFITO-7 Gracielle Santos destaca a importância do Dia da Consciência Negra como forma de buscar promover uma reflexão profunda da comunidade sobre os dilemas de viés étnico-cultural.

A maioria do povo brasileiro, com destaque para os baianos, veio com a diáspora – escravização de africanos para servir de mão de obra sem custo para as elites agrárias, além de servirem de mercadoria de compra e venda.
O legado desta triste constatação inclui o etnocídio – quando as línguas, o vestuário, a culinária e o ethos (jeito de ser) dos povos escravizados são apagados como reflexo da cruel dominação.

“A fisioterapia tem muito caminho a trilhar como agente de transformação de saúde, muito embora a Constituição de 1988 garanta este perfil visando ao melhor convívio”, afirma Gracielle Santos.

Segundo a diretora-secretaria do CREFITO-7, o método possível é lutar por uma representatividade de classe, com a construção de políticas públicas e a maior inserção da fisioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para além da prática da fisioterapia voltada para as comunidades carentes, em busca da justiça reparadora e proporcional, o Vinte de Novembro inspira reflexões relacionadas aos fundamentos da busca por um Brasil igualitário.

A sociedade civil organizada, afirma Gracielle Santos, precisa avançar neste objetivo, destacando-se os gestores das organizações, pois a fisioterapia ainda é percebida como uma atividade de valor muito pequeno na hierarquia.

“Para servir melhor à sociedade, considerando a questão do reconhecimento dos direitos dos afrodescendentes, é preciso conscientizar para a necessidade de realização de concursos públicos e distribuição de cargos, levando em conta a importância de aumentar o número de descendentes dos escravizados”, defende Gracielle Santos.

Na área acadêmica, para se ter uma ideia de o quanto se precisa avançar, em Ilhéus e no entorno da região Sul, área de atuação de Gracielle Santos, há apenas quatro fisioterapeutas em ação, juntando concursados e contratados.

O resultado é a perigosa automedicação ou a utilização de remédios de baixo custo, mas proporcionalmente pouca eficácia, ampliando o sofrimento em mobilidade, principalmente de idosos e idosas negros.

Os avanços passam pela melhoria na educação geral, incluindo ativistas e lideranças de movimentos sociais, no sentido de perceber na fisioterapia um bem a ser repartido, na condição de intermediário para a felicidade geral.
Sem um atendimento adequado, alerta a profissional, uma crise ou uma ocorrência aguda pode tornar-se crônica, apesar dos avanços da tecnologia, inacessível ainda a uma maioria de origem africana.