Dr. Nildo Ribeiro conversou conosco e destacou a aproximação entre profissionais, estudantes e a sociedade como uma das prioridades de gestão, que já começa a colher os frutos dessa iniciativa. Projetos como o CREFITO-7 EM MOVIMENTO e o ESCUTA ATIVA, já passaram por diversas cidades do estado, em apenas sete meses de gestão. Além disso, Ribeiro compartilhou sua visão como professor, mestre e multiplicador de conhecimento, responsável pela formação de inúmeros fisioterapeutas. Ele, que teve mais motivos para desistir do que para continuar quando esteve no lugar de aluno, reflete hoje: “Renovar o sonho, é sonhar mesmo, é acreditar que é possível, buscar as ferramentas possíveis, buscar os apoios possíveis”.
Confira a íntegra da entrevista, abaixo:
CREFITO-7: O ano está acabando e a diretoria completando sete meses de gestão à frente do CREFITO-7. Qual o balanço que o senhor faz, tendo em vista um traço que vem chamando atenção: ações para aproximar o Conselho de todos?
NILDO RIBEIRO: Bom, você falou uma coisa muito importante em relação a essa questão de aproximar… Era uma proposta de campanha… tanto que a gente tem o “CREFITO-7 Para Todos”, o “Escuta Ativa”, que são projetos visando realmente aproximar o profissional… Para os estudantes, tem o CREFITO-7 JOVEM, para que eles se sintam participantes da história do Conselho. Mas, para além de uma proposta de campanha, é o que eu digo muito, assim… quando eu estou em evento, por exemplo, eu falo assim: “O CREFITO é nosso, né? De todos os profissionais! Não é dessa gestão, é de todos!
CREFITO-7: E na prática, como o senhor exemplificaria essa aproximação?
NILDO RIBEIRO: Por exemplo, eu amo a reabilitação e a saúde como um todo! Quero uma saúde digna para os pacientes, mas também para os profissionais, com boas condições de trabalho e retorno financeiro. Amo minha profissão e sei o impacto que ela tem. Dentro das áreas da saúde, especialmente as de reabilitação, como Fisioterapia e Terapia Ocupacional, percebi que a paixão sozinha não resolve as questões da profissão. A sala de aula tem seu papel, mas faltava algo no meu fazer para fortalecer minha profissão em outros espaços. Sozinho ou em um coletivo desorganizado, é difícil avançar. Ao longo dos anos, conquistamos muito, mas percebo que ainda temos muito a ser conquistado.
CREFITO-7: Então, o que é que acontece?
NILDO RIBEIRO: Quando entrei no Conselho, sabia que era essencial que todos entendessem de fato o papel do Conselho, isso já era dito, e eu reforço pois é importante para fortalecer as profissões como um todo. Em um encontro do ESCUTA ATIVA da semana passada, falei sobre um concurso no interior, destacando que as ações do Conselho beneficiam o coletivo mesmo quando alcança um profissional. O fortalecimento da profissão é uma responsabilidade de todos, e quanto mais nos envolvemos, mais todos ganham — não só individualmente, mas como um coletivo. Isso não tem preço. Para mim, o mais importante é a aproximação e o entendimento de que o Conselho é de todos. O trabalho de ouvir, envolver, dialogar e respeitar as diferenças é fundamental. Essa gestão tem se empenhado nisso, muito em função, também, da postura ativa e democrática do nosso presidente Rodrigo Medina que tem uma escuta muito sensível e consegue alcançar o melhor das opiniões e olhares, com certeza isso ajuda muito no nosso trabalho. E é muito gratificante ver o retorno positivo dos profissionais. Nos sete meses de gestão, tivemos muito trabalho. Foi um período de aprendizado, especialmente para mim, que nunca tinha sido conselheiro. Tivemos que nos adaptar rapidamente, entender o funcionamento interno e ajustar processos. A transição não foi ideal, mas conseguimos mapear e organizar o Conselho enquanto ele estava em funcionamento. Embora ainda haja muito a melhorar, vejo que conseguimos avançar bastante. Fizemos muitas ações positivas e trabalhamos duro. Quando olho para trás, parece que estamos há quatro anos na gestão, mas na verdade, se passaram apenas sete meses.
CREFITO-7: Falando disso, eu queria aproveitar e falar do CREFITO-7 EM MOVIMENTO, um projeto que nasceu de uma vontade, de um querer do senhor, vendo, entendendo também um pouco da necessidade, e preocupado em trazer discussões para os fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, e estudantes também. Já tivemos 4 edições este ano, em cidades diferentes… Como é que o senhor enxerga hoje o CREFITO-7 EM MOVIMENTO?
NILDO RIBEIRO: Como professor, sempre me preocupo com o avanço técnico e científico da profissão. Nos últimos anos, a ciência e outras áreas, como o jornalismo, evoluíram rapidamente, principalmente devido à internet e à globalização. Por isso, penso muito sobre o futuro da fisioterapia e terapia ocupacional, especialmente no que diz respeito à atualização profissional. O CREFITO-7 EM MOVIMENTO surgiu com um somar de forças com outros conselheiros entre eles o Anderson e a Joice, justamente para responder a essa necessidade de capacitação e aproximação com o profissional. Em vez de esperar que o profissional venha até nós, levamos o projeto a ele. Em 2025, teremos um cronograma mais extenso, pois estamos agora consolidando o projeto e suas etapas. A capacitação é uma ação importante, pois, ao atualizar os profissionais, garantimos uma prática mais segura e eficaz. Quando o profissional é capacitado com base também em evidências científicas e em experiências exitosas ele reduz as chances de erro, melhorando a assistência ao paciente. O CREFITO-7 EM MOVIMENTO também aproxima o profissional do Conselho, oferecendo, além de palestras técnicas, momentos para discutir ética, fiscalização e a importância do Conselho. Estou muito orgulhoso desse projeto, pois ele não só melhora a prática profissional, mas também fortalece o vínculo com o Conselho e contribui para a evolução da nossa profissão e traz frutos para a sociedade.
CREFITO-7: Eu vejo o Conselho assumindo essa responsabilidade de forma central. O CREFITO-7 reconhece que o profissional, ao melhorar suas habilidades, se torna mais capacitado e, consequentemente, tem mais chances de acertar do que de errar. Além disso, o Conselho também se preocupa com os estudantes. Embora a academia e o Ministério da Educação tenham seu papel, o Conselho contribui ao orientar o estudante na trajetória para se tornar um profissional exemplar e comprometido, o que fortalece a profissão como um todo, não é isso?
NILDO RIBEIRO: Nos eventos, observamos a felicidade dos profissionais e estudantes em estarem próximos do Conselho, participando de capacitações e palestras. Claro, há sempre ajustes a fazer, pois os temas são pensados conforme as necessidades locais. Além disso, o CREFITO-7 EM MOVIMENTO se conecta ao projeto CREFITO-7 JOVEM, que dialoga diretamente com os estudantes, utilizando a linguagem deles. O primeiro encontro com as lideranças discentes foi híbrido e teve como objetivo ouvir os estudantes: o que eles esperam do conselho? A adesão ao Conselho só acontece quando o estudante se sente pertencente. O CREFITO-7 JOVEM visa também criar essa conexão desde a formação, para que, ao se formarem, já se sintam vinculados ao Conselho. Para 2025, queremos que os estudantes sejam os protagonistas, planejando eventos e iniciativas, com nosso apoio como mentores. Eles participarão ativamente de enquetes e decisões sobre o que os estudantes de toda a Bahia desejam, ajudando a moldar o futuro do projeto. O CREFITO-7 JOVEM já é um projeto promissor e está em crescimento.
CREFITO-7: É muito interessante o senhor mencionar a questão da interiorização, pois, nos projetos, percebemos claramente o entendimento e o empenho de vocês em levar essa ação adiante. Tivemos essa experiência com o ESCUTA ATIVA em Vitória da Conquista, Feira de Santana, entre outros. Ou seja, há uma preocupação real em estar mais próximo dos profissionais da Bahia, um estado enorme com 417 municípios, mas que demanda estar presente para ouvir e entender a realidade desses profissionais. Em 2025, podemos esperar um reforço nesse movimento para o interior?
NILDO RIBEIRO: Sim, foi um grande esforço, principalmente em um projeto de alcance como o CREFITO-7 EM MOVIMENTO. Organizar um evento assim vai muito além de reservar um auditório e falar, é um trabalho minucioso: escolher palestrantes, ajustar mesas, organizar logística e deslocamentos. A Bahia é enorme, com uma distribuição geográfica complexa, mas os primeiros passos que demos já mostram nossa intenção de alcançar o maior número possível de lugares. É difícil estar fisicamente em todos, mas até o final da gestão, já planejamos visitar várias cidades que não conseguimos agora. Queremos atingir o maior número de profissionais possível, entender as demandas específicas de cada região, pois as necessidades de Salvador são diferentes das de outros locais. Para isso, realizamos reuniões com coordenadores de curso e lideranças locais e faremos mais. Além disso, temos um bom número de delegados espalhados pela Bahia, que ajudarão a representar e apoiar o CREFITO-7. Em 2025, teremos várias reuniões para alinhar as ações e garantir uma identidade única para o Conselho, respeitando as diversidades regionais, mas com um modelo de gestão coeso. Queremos que todos se sintam parte de um movimento único. O projeto ESCUTA ATIVA também é fantástico, o profissional pode conversar sobre suas questões diretamente conosco.
CREFITO-7: E como é que você enxerga hoje, o senhor nessa posição de diretor de uma gestão no CREFITO-7, depois de, enfim, tudo o que aconteceu, fazendo esse trabalho ao longo de sete meses, com essa expectativa de 2025, 2026, 2027, 2028, como é que você se enxerga nesse cenário hoje?
NILDO RIBEIRO: Essa pergunta é difícil, pois envolve vários cenários, mas, do ponto de vista profissional, estou muito feliz, apesar do cansaço. Trabalhar no conselho tem sido uma experiência enriquecedora. Quando comecei na Câmara Técnica e na Comissão, não tinha ideia do alcance do que podemos fazer pelas nossas profissões como tenho agora como Conselheiro. Agora, vejo como é valioso o trabalho realizado, seja na gestão, na fiscalização, ou nos processos éticos que avançaram. Isso me renova, me impulsiona para o futuro. Eu acredito que nosso trabalho ajuda a fortalecer a fisioterapia e a terapia ocupacional, tornando-as mais seguras e valorizadas. Quando vejo profissionais e alunos felizes com suas conquistas, como um ex-aluno que quase abandonou a profissão, mas encontrou uma oportunidade na fisioterapia domiciliar, me sinto realizado, mas sei que precisamos trabalhar para fortalecer esses espaços. É gratificante ver que, ao fortalecer a profissão, proporcionamos um ambiente mais seguro e estável para todos. O maior legado que podemos deixar é ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos, como eu realizei os meus. Acredito que aqui, no Conselho, também contribuímos para isso, oferecendo suporte e segurança, para que ninguém precise abandonar seu sonho por falta de estabilidade. Ver alguém conquistando seus objetivos é, sem dúvida, uma das maiores alegrias. Temos muito a fazer para que alcancemos esses objetivos. Buscamos aliar o trabalho externo ao trabalho interno que exigem de nós muita dedicação. Todas as conquistas da gestão vêm de um trabalho coletivo que, mesmo nas suas diferenças, busca dar o seu melhor pelo Conselho.
CREFITO-7: E qual é a mensagem que o senhor deixa para os profissionais nesse fim de ano? Depois de tanto trabalho, depois de tanta correria, depois de tantas viagens, depois de encontrar com tantos profissionais, depois de dar aula, enfim, qual é a mensagem do Dr. Nildo Ribeiro?
NILDO RIBEIRO: Olha, com toda sinceridade, é… Sim, vale a pena, fica parecendo muito clichê, assim, muito utópico, mas vale a pena você acreditar, sabe? Eu lembro que, quando era estudante, assistia muitas palestras e pensava: “Meu sonho é estar ali, um dia”. Sempre desejei ser um professor reconhecido pelo meu papel. Tinha essa vontade muito forte de ser um profissional respeitado. Passei por muitas dificuldades para me formar e, após isso, vim do Rio para cá. Não foi fácil, mas acreditei no meu sonho. Eu sabia que, se lutasse por isso, conseguiria. Hoje, ao olhar para os meus alunos e profissionais ao meu redor digo a eles: “Renovar o sonho, é sonhar mesmo, é acreditar que é possível, buscar as ferramentas possíveis, buscar os apoios possíveis”. Na minha época, fiz muita coisa sozinho, mas não aconselho a ninguém. Busquem apoio, seja de um professor, um conselho, ou de quem possa ajudar na construção do seu sonho. Lembro também dos desafios que enfrentei ao fazer mestrado e doutorado. Sempre me desafiei, pois muitas vezes não enxergamos nosso potencial até estar na luta. Gosto muito de uma citação de Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, que diz: “Eu não escuto as críticas de quem está na arquibancada, mas sim de quem está na arena, lutando comigo”. Essa frase me marcou profundamente, especialmente em um mundo virtual, onde as pessoas julgam e cobram uma vida perfeita. Eu prefiro escutar quem está comigo na luta, quem está passando pelas mesmas dificuldades. Eu sempre digo aos meus alunos: vai doer, você vai chorar, eu também chorei. Chorei nos corredores de hospitais, em casa, por não me sentir valorizado em alguns momentos ou pelas lutas diárias. Mas, como eu tinha um sonho, segui em frente, com as cicatrizes, com as dificuldades. Lembro também de Alice no País das Maravilhas, quando ela não sabia para onde ir. O personagem diz: “Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Isso me marcou porque, mesmo sem saber exatamente o que viria, eu sabia onde queria chegar. Minha mensagem é: escolha seu sonho e vá atrás dele, mesmo com as dificuldades. Acredite, trabalhe duro, e as portas se abrirão. O conhecimento empodera, e o trabalho genuíno é sempre reconhecido. Sempre percebo aquele aluno que chega cedo, que busca algo mais, que estuda muito, inquieto, que está em busca do seu sonho. Ele sabe que a jornada não será fácil, mas está disposto a seguir em frente, porque acredita que as coisas vão acontecer.