“A gente viu a vida da nossa filha sendo salva por algo que a gente aprendeu a vida inteira
que era do mal”. Esse depoimento é de Norberto Fischer, que, juntamente com sua
esposa, Katiele Fischer, teve reconhecido pela Justiça brasileira, em 2014, o direito de
usar e importar o Canabidiol (CDB), substância derivada da maconha, para o tratamento
de sua filha Anny, portadora da Síndrome CDKL-5, que provoca graves convulsões e
prejudica o desenvolvimento neurológico das crianças.
O uso terapêutico de substâncias derivadas da maconha ainda é um tabu no Brasil, cercado
de preconceito e de falta de informação, sendo necessária uma ampla discussão na
sociedade, em diversas esferas, principalmente entre profissionais da área da Saúde.
Experiências de tratamento à base de CDB, como o caso da Anny, que teve sua primeira
crise aos 40 dias de vida, têm tido resultados positivos, mas a burocracia para adquirir o
produto, a questão legal e o alto custo são um entrave para aqueles que veem na substância uma esperança de melhoria da qualidade de vida dos seus entes queridos e de seus pacientes.
O CDB possibilitou à Anny fazer Fisioterapia, Terapia Ocupacional e outras terapias,
gerando ganho real em relação à sua qualidade de vida, conforme os pais relataram ao Dr.
Gustavo Fernandes e à Dra. Aline Alencar, presidente e conselheira do CREFITO-7,
respectivamente, em entrevista realizada durante o evento “Cannabis Medicinal – uma
opção de tratamento”, realizado em Salvador/BA.
Assim como Anny, outras pessoas, independente da faixa etária, podem ter resultados
positivos em seus tratamentos com o uso da Cannabis Medicinal. Em relação à
Fisioterapia, por exemplo, a resposta ao tratamento é visível, como alguns casos citados
por Norberto de pessoas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos e países da Europa,
que não conseguiam sequer se mexer e, após o uso de doses específicas da substância,
passaram a andar, correr e fazer movimentos com o corpo quase de forma instantânea.
Para os tratamentos terapêuticos ocupacionais, os resultados também chamam a atenção.
No caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o uso da Cannabis Medicinal pode
facilitar os movimentos, a concentração e a interação com o mundo, evitando o
isolamento social, as agressões e mutilações, que muitas vezes ocorrem em pessoas
autistas.
Durante todo esse processo, cada movimento se torna uma grande vitória. “Quando a
Anny teve a regressão, ela parou de emitir qualquer som. Ela não se mexia, não chorava
mais. Quando a gente conseguiu estabilizar as crises com o Canabidiol, ela voltou a sorrir.
Nossa alegria era que ela estava conseguindo externalizar alguma coisa, mesmo que fosse
com choro. Eram pequenas conquistas.”, destaca Katiele.
Atualmente, o passo-a-passo para comprar doses da substância ainda é complicado.
Existem algumas etapas burocráticas, como prescrição médica e envio da documentação
para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que prolongam, ainda mais,
o tempo de espera daqueles que precisam de tratamento imediato. Para orientar as pessoas sobre a compra da Cannabis Medicinal e levar mais informação à sociedade, foi criado o aplicativo CDB Mais Fácil, por enquanto em versão simplificada, disponível para
Android, que informa as opções de produto, os primeiros passos para solicitar a
substância, estudos, entre outras informações. O aplicativo é gratuito e, em breve, estará
disponível também na App Store.
O CREFITO-7, ciente da importância de um debate amplo e aberto sobre o tema e da
necessidade de mobilização de diferentes grupos, como ONGs, parlamentares, estudantes
e profissionais, coloca-se à disposição de seus inscritos para dialogar sobre esta questão
com a finalidade de levar essa discussão para o maior número de pessoas possível.
Sabemos que o assunto é bastante polêmico e tem enfrentado diversas barreiras ao longo
dos anos, mas somente com informações sérias, fundamentadas em resultados reais, será
possível que cada um tire suas próprias conclusões sobre o uso da Cannabis Medicinal.
Para saber mais sobre a história de luta do casal Katiele e Norberto Fischer pelo direito à vida de sua filha Anny, confira o documentário “Ilegal”, disponível no Youtube e na Netflix.